Aconteceu nesta última terça-feira, dia 05/06/2012 a palestra com o Doutor Lister Vianei Borges, Médico Homeopata e Psicoterapeuta Ericksoniano. Essa 3ª Edição 2012 foi mais um encontro altamente fecundo e produtivo. De modo muito espontâneo e ao mesmo tempo muito embasado na sua prática clínica, Dr Lister conversou e versou sobre o tema Saúde um/em Movimento. Aos que foram podem rever aqui a sua fala e aos que não foram podem aproveitar fazendo a leitura da palestra transcrita por mim.
Esclarecendo
o título
Um
movimento de encontro a saúde é o que temos que fazer, porque a saúde está
sempre em movimento, não é que não possa ser alcançada, é que ela é mutável. Então temos que estar em movimento,
sempre nos movimentando ao seu encontro. Gostei muito do convite para esta
palestra porque a postura de Heráclito, do vir-a-ser, coincide com esse
pensamento de termos de estar sempre tentando ser saudáveis.
Significado
de movimento
O
dicionário traz várias definições de
“Movimento”, mas as duas que me interessam são: animação e evolução. Movimento
é isso, animação e evolução, e evolução só acontece através do movimento. E o pensamento
de Heráclito é isso, um vir-a-ser que define a evolução. Sempre vir-a-ser,
nunca estar pronto.
Todo
movimento tem direção, ritmo, velocidade e função específicos e qualquer
alteração provoca uma dissonância, uma estranheza, e isso também acontece na
nossa busca com relação à saúde, e também acontece no movimento da própria
saúde. Porque tudo é movimento. A vida começa e acontece através do movimento, imaginem...
A multiplicação das células é um
movimento constante até que se forme um ser; se acontecer uma interrupção ou
alteração na velocidade, na direção ou no ritmo dessa proliferação celular o
ser em questão pode não ser viável ou não ser saudável. Nos movimentamos a vida
toda, as células se movimentam o tempo todo, na constituição dos tecidos,
tecidos que vão constituindo órgãos, órgãos que vão constituindo sistemas, e
tudo é movimento. Movimento circulatório, movimento digestório, movimento
muscular, etc. E tudo tem que acontecer dentro dessa premissa de velocidade, de
direção, de ritmo e função pré-definidos para aquele movimento.
Facilitador
e dificultador
Tenho
percebido, na prática clinica, atitudes e condutas que facilitam ou dificultam
esse movimento rumo à saúde. Mas não é de doença que quero falar, quero falar
de facilitadores e dificultadores desse movimento em direção à saúde. (...) E
tudo é a mesma coisa, são faces diferentes apenas; o que de um lado é
dificuldade, do outro é facilidade. Se equilibramos um hábito dificultador
teremos automaticamente um facilitador.
Bem
e mal
Um
dos dificultadores da busca pela saúde é o conceito de bem e mal e de disputa
que vem da filosofia grega na qual o termo agón, de onde vem a palavra agonia, representava o
pensamento de que a vida é uma eterna disputa, que estamos sempre disputando
alguma coisa, lutando por alguma coisa, e que tudo é difícil; parece que isso
está arraigado no pensamento humano e eu não concordo. Acho que a vida não é
uma disputa, a vida é equilíbrio e adequação, se a gente se coloca na disputa isso
pode representar um dificultador no
nosso movimento rumo à saúde.Paradoxo
Em determinado momento de minha vida me deparei
com um paradoxo que precisei solucionar para seguir meu movimento rumo à saúde:
Me percebi muito crente na humanidade – me considero um evolucionista – mas
muito descrente do individuo. Isso é um paradoxo; como você pode ser crente no
conjunto e descrente das partes? Isso adveio do fato de que, como médico, ter
sido treinado a olhar muito focadamente o indivíduo, aliás, não propriamente o
indivíduo, fui treinado a olhar para a queixa do indivíduo, fui treinado a
olhar para o órgão onde estava localizada a queixa do indivíduo. E isso faz com
que se perca o sentido do todo, da globalidade. Quando olho o indivíduo muito de
perto, e olho aquilo que me chama a atenção, posso ter uma impressão
equivocada. Então tive que equilibrar isso em mim e afastar
um pouco minha visão e olhar a pessoa como um todo; hoje creio que o indivíduo
deve ser olhado como um ser em evolução, em movimento, que aquilo que estou
olhando nele pode não me agradar, mas se eu ampliar meu olhar posso ver muitas
outras coisas. Continuo sendo crente na humanidade, mas um pouco desconfiado do
indivíduo, porém em paz com isso. Acho
que esse modo de pensar atrapalha o movimento de algumas pessoas, pelo menos é
a experiência que eu tenho tido, as pessoas são descrentes do outro. A
Homeopatia me ajudou nesse processo; além de usar e trabalhar com a Homeopatia
incorporei essa visão mais sistêmica da pessoa. A Homeopatia nos treina de uma
forma diferente. Então o médico homeopata não olha a doença do indivíduo, ele
olha a queixa de um indivíduo que está inserido num contexto. Isso nos ajuda a
modificar um pouco o olhar e a observar as coisas de uma maneira mais global
dentro de um contexto mais amplo.
Energia
vital
A energia vital, o Vitalismo, é a base
filosófica da Homeopatia. A foto kirlian mostra essa energia. Energia é puro
movimento. (...) Quem tem capacidade de observar a aura das pessoas relata um
movimento constante onde as energias se alteram na medida em que as pessoas interagem,
que os sentimentos alteram o campo energético, e que tudo é movimento. Não tem
nada estático e há sempre uma sequência de movimentos, a vida é uma sequência
de movimentos, a vida do indivíduo é uma sequência de movimentos. O vitalismo leva em consideração a energia
vital da pessoa e o movimento dessa energia é que determina o bem estar ou o
mal estar. A energia vital equilibrada, num movimento de equilíbrio, como eu
disse anteriormente, de velocidade, de ritmo, de sequencia, de direção, promove
o bem estar. Alguma interrupção, algum corte nessas características do
movimento promove o mal estar e é isso que nós, enquanto médicos homeopatas,
fazemos; reequilibramos essas energias.
Normal
e frequente
A Silvia fez referência à Mafalda; sou um fâ do
Quino, através desse personagem Mafalda ele diz coisas que precisariamos de
muitas palavras para dizer. O que está representado na tirinha é outro
dificultador que pode se tornar um facilitador quando compreendemos o que é
normal e o que é frequente. Hoje em dia tem muita coisa que é frequente, mas
não é normal. Isso na tirinha por exemplo: Cansaço, intranquilidade,
preocupação, nervosismo, desequilíbrio e ansiedade é muito frequente, mas não é
absolutamente normal. Eventualmente é comum sentir cansaço, eventualmente é comum
sentir intranquilidade, ficar preocupado, ficar nervoso, ficar ansioso. Mas
desequilíbrio nunca é normal por menor que ele seja. A própria palavra já diz,
não tem como ser normal. Mas as pessoas estão nessa vida de hoje numa
tribulação muito grande, demandas muito grandes e estamos considerando coisas
que não são normais, como normais. Precisamos fazer essa diferenciação (...).
Movimento
evolutivo orgânico
No movimento evolutivo da espécie humana, o
movimento orgânico nos trouxe às raias da perfeição, o corpo humano é muito
perfeito, quando aquele movimento, aquele ritmo, aquela frequência estão estáveis,
o corpo humano é muito perfeito; é tão perfeito que não nos lembramos dele.
Quando há saúde, ninguém se lembra do estômago, do coração, do joelho. Mas se
alguma coisa no movimento é alterado nós lembramos, a gente só lembra quando o
movimento é alterado.
Movimento
evolutivo, mental e emocional
O movimento evolutivo mental é motivo de
orgulho. “Penso, logo existo.” Mas o mental é a única instância humana passível
de engano. Todos os nossos enganos acontecem por conta do nosso maior orgulho.
É através do mental que eu convenço alguém de que ele está errado ou de que ele
está certo, é através do mental que eu iludo alguém. É o meu mental que me
coloca em situações de risco. Mas é do que eu mais me orgulho. O emocional é o que me coloca em situações
constrangedoras. (...) pelo menos é o que a gente acha, porque é o mental que
olha as emoções de uma maneira equivocada; em verdade estamos aprendendo a
lidar com as emoções, inteligência emocional poucas pessoas possuem.
Sistema econômico
Algo interessante, que ajuda as pessoas na
busca da saúde, é nos entendermos como um sistema econômico. Em um sistema
econômico financeiro temos que administrar dinheiro, recursos diversos,
pessoas, estratégias; dentro desse sistema se processa alguma coisa, é
descartado o que não interessa e é aproveitado algo que rende alguma coisa. Nosso
sistema humano não tem diferença nenhuma do sistema econômico, só que em nós
não é o dinheiro que é a energia, aqui é a energia vital, então eu tenho que administrar
o sistema econômico pessoal para produzir saúde e bem estar. Ninguém no sistema
econômico financeiro com capacidade de gestão repete coisas que dão prejuízo.
Mas no nosso sistema econômico pessoal nós fazemos. É comum ouvirmos – Não sei
o que acontece comigo, estou sempre fazendo isso e me dando mal. Portanto, nos
olharmos como um sistema econômico nos ajuda a eleger prioridades e a assumir
condutas e hábitos mais adequados usando nossa energia de forma mais eficaz.
Idade
Imagem de Lister Vianei Borges |
Existem pessoas saudáveis em todas as idades, mas o indivíduo faz a comparação: “Nos meus trinta!”, mas a saúde dos trinta não tem como ser a saúde dos oitenta, a saúde dos oitenta tem uma característica diferente, mas nem por isso deixa de ser saúde. Agora! A saúde é um todo, se o indivíduo chega aos oitenta com a mentalidade dos trinta não vai bater. Se eu quero aos oitenta fazer coisas que fazia aos trinta, tem algo errado, não dá para ser. Agora, se eu tenho cabeça, emoção e corpo de oitenta não vai ter problema, será um movimento bem harmonioso e bem prazeroso. Então, a questão é compreender que a saúde muda, mas continua sendo saúde, se você compreender isso você não se verá limitado (...)
Crenças
O que
são as crenças?... É o que trago na cabeça. Na realidade sofremos uma lavagem
cerebral para nos tornarmos animais conviventes; porque se não houver isso, uma
organização ( isso pode, isso não pode) seria o caos. Mas por conta dessa
lavagem cerebral adotamos comportamentos e crenças que não condizem com nossa
natureza e que nos trazem desconforto e sofrimento e podemos entrar na
lamentação, na autopiedade: Oh! Vida, Oh! Azar. – É a fala de um personagem de
um desenho animado que algumas pessoas aqui nunca ouviram falar – portanto temos
que rever essas crenças, passá-las a limpo para podermos ser saudáveis.
Escolhas
Todo mundo tem escolhas. E dependendo de minha
escolha eu determino o meu movimento. É comum as pessoas dizerem: – Por eu não
ter tido escolha eu fiz isso. – Ah! Mas se eu não fizesse isso ele ia me bater...
Ela podia ter escolhido apanhar! As pessoas gostariam de ter duas ou três
escolhas boas, mas isso geralmente não é possível. Mas não importa, por mais
catastrófica que seja uma situação, sempre existe escolha, pode não ser a que
você gostaria de ter mas ela existe. E sempre escolhemos a mais fácil. Fazemos
parte da natureza e somos igual água. Água vai pelo lugar mais fácil, sempre.
(...) se tem jeito dela passar por baixo de um obstáculo ela passa por baixo,
ela não vai passar por cima. E nós somos da mesma maneira. Dependendo das
crenças que tenho, dependendo das circunstâncias eu enxergo as possibilidades
de determinada maneira e opto. Eu faço a escolha. Só que o resultado da escolha
eu só sei depois, eu não sei antes, e pode ser que aí eu considere minha
escolha errada.
Soberba
A soberba também atrapalha nosso caminho rumo à
saúde. (...) o ser humano foi condicionado a achar que é o “supra sumo”; não é...
vai ser; vai ser lá na frente deste processo evolutivo. Mas achamos que
dominamos tudo, na verdade não dominamos nada, não mandamos nem em nosso corpo. Mandamos em alguns movimentos, mas todo
o resto funciona à nossa revelia. Você não para seu intestino, não para seu
coração, você não para a respiração, você não dá conta de fazer nada, seu corpo
faz tudo sozinho à revelia do seu desejo, portanto você não manda no corpo.
Você manda na mente? Ouvimos todo dia: Não sei de onde vem esse pensamento, os
pensamentos entram, eu não quero, mas ele entram, me dê um remédio pra eu não
pensar isso. E nas suas emoções, nas nossas emoções? As pessoas falam: Eu tenho
sentimentos. Não, você não tem sentimentos coisa nenhuma. É o sentimento que te
tem. Dizemos: Não sei de onde veio uma raiva que tomou conta de mim. A
compaixão me invadiu. O que toma conta de você, o que o invade, não está sob
seu controle... A gente não manda no corpo, não manda na mente e não manda na
emoção.Precisamos compreender nossa falibilidade para
aceitar que as coisas não acontecem sempre do jeito que imaginamos, que nem
sempre conseguimos atingir performances elogiáveis, e precisamos não ficar nos
criticando, nos punindo. Vejam bem, eu não estou falando para desenvolvermos condescendência
e acomodarmos na falha, estou falando da necessidade de equilibrarmos a
soberba.
Tempo
O conceito de tempo. Como nos afastamos da
natureza temos um conceito deturpado de tempo e queremos determinar o tempo no
qual as coisas devem ocorrer; como se nosso desejo pra natureza importasse
alguma coisa! Existe um tempo para tudo na natureza. A goiaba amadurece no
tempo que é dela, a banana amadurece no tempo que é dela, a manga amadurece no
tempo que é dela e pronto, não adianta você querer antecipar isso. Hoje comemos
banana amadurecida no carbureto, ela parece banana, tem cor de banana, aspecto
de banana, mas não é banana; tem um leve gosto de banana. Queremos fazer isso
conosco, acelerar nosso tempo. Queremos criar filhos no carbureto, queremos
viver no carbureto.
Preciso compreender o tempo e me dar o tempo
necessário, me dar o tempo adequado. E também dar ao outro o tempo adequado,
não posso por carbureto nas relações. Não posso querer que uma pessoa atue em
um tempo diferente do dela; isso é importante nas relações; porque os tempos
são diferentes, tem pessoa que é mais ágil, tem pessoa que é mais lenta. Se eu
não compreender o tempo daquele que é mais rápido que eu, vou me sentir
inferiorizado. Se eu não compreender o tempo daquele que é mais lento que eu,
vou inferioriza-lo. E isso não faz bem para a saúde de nenhum dos dois.
Fardo
Imagem de Lister Vianei Borges |
Tudo
ou quase nada
É outro costume que não é muito salutar. É oito
ou oitenta. Tudo ou quase nada. Ou quero muito, ou quero nada; ou faço muito ou
faço nada. Não existe temperança. Não existe bom senso. Em medicina vemos, o
indivíduo come muito ou come pouco; bebe muita água, ou não bebe água; faz
muito exercício, ou não faz exercício nenhum. É difícil encontrarmos o
equilíbrio. A medicina quântica diz o seguinte: O equilíbrio acontece quando
nosso desejo coincide com nossa necessidade. Se você deseja o que de
fato necessita você está em equilíbrio. E partindo desse princípio, se você,
enquanto ser humano, necessita de X litros de água e deseja mais que isso você
está em desequilíbrio, se você deseja menos que isso, também está em desequilíbrio.
Então, o tudo ou quase nada tem que ser equilibrado, e não só na água, em tudo;
na alimentação, no prazer, no trabalho, nas relações, nas posses.
Influências
Isso é meio óbvio, mas eu resolvi abordar,
coloquei essa imagem porque a maior influência que temos que equilibrar atualmente
é a da mídia. Seja através do computador, seja através da televisão é a maior
influência que crianças, jovens e também nós adultos recebemos. E a tela é
hipnotizante e o que é veiculado faz nossas cabeças; mas sofremos influências
de “n” origens e precisamos,atentos,
equilibrar essas influências.
Homeopatia
Imagem de Lister Vianei Borges |
Emoções
Relatam as últimas pesquisas, que o uso
exagerado de computadores, vídeo games, celulares, faz com que os jovens tenham
dificuldade de identificar emoções na face do outro. Isso é muito importante e
sério. Porque está havendo uma deterioração das relações e um dos motivos
talvez seja esse. Se eu não identifico no outro a emoção como vou regular meu
comportamento numa vida em sociedade? Provavelmente vou agir de acordo com
aquele emocional criança. Quero, quero e acabou.
Bom nessa altura se alguém quiser fazer alguma
consideração.
Silvia: quero fazer uma pergunta.
Resposta: O desconforto!...
Resposta: O desconforto!... Eu já desisti de
procurar a formula, pra mim mesmo não existe formula. Como somos um “vir-a-ser”,
estamos sempre em movimento, o que vale para mim hoje pode não valer amanhã,
mas basicamente eu tenho que despertar em mim o desejo de uma mudança, e para
desejar mudar tenho que entrar em contato com o desconforto. Talvez meu desconforto seja resolvido com uma
alimentação adequada, talvez seja resolvido com um sono adequado, talvez com
leitura adequada, ou com companhias adequadas, com trabalhar a religiosidade ou
trabalhar uma neurose. Mas o passo inicial é me sentir desconfortável, porque
se eu estou confortável diz o ditado: “Em
time que está ganhando não se mexe”.
Obrigada pela presença e carinho de
todos
Os Leites (28 itens) forem
entregues ao
Lar André Luiz para os idosos.
Um forte abraço a todos e até o
próximo evento
24/07/2012
Com Cristina Chiang
falando sobre o tema
Mudança de hábito: detox como
ferramenta