Aconteceu no dia 18/09/2012 a 6ª Edição do Projeto filosofandoagora, no
Espaço Cultural do Mercado com a apresentação da palestra “Educação: tempo de
mudanças para escola e família”, proferida pela Professora Cláudia Rodrigues que é Graduada em Letras, Especialista em Metodologia de
Ensino, Especialista em Linguística Aplicada, Mestre em Linguística e
Tecnologia pela UNICAMP, leciona no Colégio Marista e presta assessoria e
orientação em trabalhos acadêmicos. Abaixo segue uma síntese do diálogo elaborada
pela Professora Cláudia.
A necessidade das mudanças
As mudanças
ocorrem a todo tempo em nossas vidas. Percebidas ou não, elas existem. O que
pode ocorrer é que muitas vezes não controlamos estas mudanças, assim somos
guiados pelo “destino”. Em outras situações, aqueles que são mais preocupados
com o curso que a vida toma, provocam e controlam as mudanças. Deve-se
entender, portanto, que aquele que não luta pelo futuro que quer, terá que
aceitar o futuro que vier.
Muro das lamentações
Entretanto,
alguns, ao invés de buscar pelas mudanças em seu meio (e isso atinge o
profissional, emocional, amoroso etc.) preferem fazer do seu semelhante o ‘muro
das lamentações’. E isso muito pouco ajuda para que ocorram mudanças
progressivas em sua vida. Embora seja momentaneamente interessante o desabafo,
muitos exageram e partem para a crença de que “falar” ao outro resolverá o
problema. O resultado serão dois problemas: a exaustão em falar cansativamente sobre
determinada situação para todos sem que se aplique uma pertinência para quem
falar, ou seja, um tempo perdido que poderia estar sendo aplicado para uma ação
prática de resolução da questão. O segundo problema – que ainda é o primeiro –
a resistência do problema.
Insistir que
alguém deve ser o seu “muro das lamentações” é estar preso por vontade a não
resolução do problema. Kant afirmou que “você é livre no momento que não busca
fora de si mesmo alguém para resolver os seus problemas”. Isso porque a mudança
é interna, e depende de coragem. Para que ocorram mudanças, é preciso deixar o
negativismo de lado. O médico Drauzio Varella afirmou em determinado momento
que “pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas. Preferem
a lamentação, a murmuração, o pessimismo”.
Conceitos sobre mudança
Os conceitos
sobre o termo “mudança” também mudaram. Em tempos passados, mudar era sinônimo
de fragilidade de conceitos, dúvidas, incertezas no sentido pejorativo. Hoje
mudar é revelar inteligência, mostrar conjecturações, raciocínio. Sobre isso
Freud disse que não se envergonhava de mudar, porque não tinha vergonha de
pensar. Ainda sobre mudanças, Russeal contribui com o seguinte pensamento:
“todo o problema do mundo é que os tolos e os fanáticos estão cheios de
certezas, e as pessoas mais sábias estão cheias de dúvidas”.
Medo: o ladrão de sonhos
Entre alguns
entraves para a mudança, o pior está no medo de errar. O medo é um ladrão de
sonhos, logo de realizações também. O risco é a chance para que as mudanças
aconteçam de forma planejada, controlada por seu produtor, a coragem é
fundamental nesse momento.
Outra
realidade muito comum, o hábito que temos em projetar as nossas mudanças nos
outros. Propomos mudanças para o outro constantemente, e sempre julgamos o
comportamento alheio. Na verdade, o que fazemos é transpor para os outros as
mudanças que gostaríamos que ocorressem com a gente. Temos que ser a mudança
que tanto procuramos no outro. Isso porque as pessoas não mudam com cobranças,
mudam com exemplos.
Reconhecendo as falhas
Mudar este
cenário aparentemente é simples, mas não o é. A possibilidade de mudança está
inerente à vida de todos, entretanto é necessário coragem e humildade para que
efetivamente ocorra as mudanças. Para provocar mudanças, é necessário
primeiramente o reconhecimento de uma falha. Reconhecer uma falha passa a ser
um desafio para muitos. Primeiro porque o reconhecimento de uma falha somente
ocorre no mergulho de um silêncio. O silêncio é uma necessidade para que os
planos das ideias se manifestem; as ideias não surgem ao meio de turbulências,
elas costumam surgir no equilíbrio.
O silêncio
Eis o
desafio humano: o silêncio humano. A dificuldade em silenciar é para todos,
pois vai de encontro com nossos objetivos de espécie. A comunicação é inerente
ao ser humano, temos a necessidade da comunicação; manifestar a todo o momento
nossos desejos, nossas fantasias, nossas conquistas é uma atitude inerente ao
nosso comportamento; mas com um pouco de treino é possível exercitar o dom do
silêncio. Somente com o silêncio buscamos o equilíbrio que permite a tomada de
decisão coerente, o avançar dos passos seguros.
Celebrando o erro
O segundo
passo, possivelmente mais difícil ainda, seria o reconhecimento do erro. É
fundamental perceber o erro, pois só mudamos, quando algo está errado. Você nem
sabe que tem um fígado, até que ele vai mal; quando escreve nem pensa no lápis
até que a ponta se quebre. Todo pensamento começa com um problema. Depois de
reconhecido o erro, está na hora de “celebrar” esse erro, viver o erro,
entender a sua natureza, assim a força desse erro diminui, e a solução vem como
luz.
É importante
lembrar que o erro é uma questão de ponto de vista. Sobretudo, devemos ser
respeitados pelas escolhas que fazemos. Nossas escolhas são diferentes,
decorrentes daquilo que aprendemos no seio familiar, da forma em que nossos
pais nos orientaram a ver o mundo. Muitas vezes absorvemos essa orientação e
muitas vezes a negamos também.
Os obstáculos
Mudar é
difícil, muitas vezes encontramos obstáculos que impedem as mudanças.
Sobretudo, devemos entender que os obstáculos existem para ver até onde vai a
nossa fé. Dalai Lama sugere que devemos abrir os braços para as mudanças, mas
nunca abrir mão de nossos valores. É possível entender, desta forma, que a
mudança é constante e progressiva na vida do ser humano. Parafraseando
Lispector, devemos mudar, mas começar devagar, porque a direção é mais
importante do que a velocidade.
Tempos de mudança para a escola
A escola
também não ficaria fora da necessidade das mudanças, necessita de mudanças em
vários aspectos. Isso porque novas tendências surgem, novos interesses, novas
gerações. Entretanto, a maior dificuldade hoje encontrada por nós, professores,
é querer ensinar para quem está decidido a não entender. Para entender o porquê
de a escola ter que mudar, é interessante entender a evolução das gerações
assim entendemos de onde viemos e para onde queremos ir.
Geração dos Baby Boomers
A geração
dos Baby Boomers (1951-1964) foi uma geração de pessoas revolucionárias e
moldadas com grande disciplina; eram céticos em relação à autoridade,
independentes; transformadores, buscam reorganizar ou reestruturar suas
organizações; tinham foco no curto prazo e mentalidade de trabalhar
pressionados; a liderança era um consenso; tendiam a priorizar o trabalho,
acreditam num mundo competitivo e compenetrado. Essa geração hoje são pais,
avós. Por suas características é fácil entender os conflitos com a geração
atual. A disciplina e o foco eram prioridade deles, não é muito fácil para esta
geração entender os adolescentes de hoje. E, é claro, haverá conflitos se
alguma ponta não tiver o equilíbrio para entender o processo que move as
gerações.
Geração X
A geração X
(1965-1983) buscava pelo equilíbrio entre a vida pessoal e profissional; são
indivíduos autocentrados, empreendedores e extremamente independentes:
altamente pragmáticas e orientadas às ações; a liderança era uma competência;
grupo mais conservador da força de trabalho; meta de carreira dirigida a novos
desafios; gostam de trabalhar num ambiente de equipe e a primeira geração que
verdadeiramente domina os computadores - Era da Informação. Esta geração já
apresenta sinais sensíveis de mudança: passam a considerar também a vida
pessoal como importante.
Geração Y
A geração
posterior, a Y, (1984-1990), são tecnologicamente superiores; tendem a ter
entendimento global; necessitam de reconhecimento positivo periódico; desejam
crescimento rápido na carreira e são imediatistas; tecnicamente muito
sofisticados; multitarefeiros; fiéis aos seus projetos; precisam se sentir
"fazendo parte" do time: liderança por coletividade e inclusão. O
perfil é de uma geração, além de mais avançada tecnologicamente, gosta de
trabalhar em grupo (diferente dos Baby Boomers).
Geração Z
Os jovens da
geração Z (1990-2000) nasceram com a tecnologia e no mundo facilitado por
inovações. Para este grupo a vida merece praticidade; a paciência não é o dom
dessa geração; eles são ansiosos e adoram fazer várias coisas ao mesmo tempo;
para eles a vida é mais virtual e menos real; a democracia é estabilizada, mas
a classe política anda em decadência; há queda de valores e a família
tradicional dá lugar a novos estilos de vida: solteirismo, mães e filhos, pais
e filhos, e uniões homossexuais.
Geração M
Quem,
afinal, são os jovens de hoje? A geração M, M
de: multiatarefados, multiconectados, multiestimulados, multi-informados. É aquela que tem capacidade de fazer muitas coisas
ao mesmo tempo. A geração M é multimeios –
utiliza vários meios ao mesmo tempo, para se informar e também para se
socializar.
As gerações
são diferentes, tendem a ter valores e objetivos diferenciados. Com o
conhecimento e o reconhecimento das diferenças, fica mais fácil a compreensão
das escolhas de nossos filhos, de nossos pais. Desta forma, o respeito
predominará.
A
constatação é que as gerações têm diminuído seus anos de vida. A geração dos
Baby Boomers durou por 18 anos, a geração X 15 anos, a Y 14 anos, enquanto a Z
apenas 10 anos. Isso revela a rapidez das mudanças. De uma geração para outra a
mudança é brusca, o que agrava ainda mais é que isso acontece em tão curto
tempo. A dificuldade da escola está em acompanhar estas mudanças de forma
prática e coerente. Os métodos de ensino muitas vezes são ultrapassados. Não se
ensina a formular problemas. Entretanto, sabe-se que quem não tem a capacidade
de formular problemas, não é capaz de fazer ciência.
O conflito entre escola e aluno
A escola não
pede para que o aluno formule problemas, ela quer respostas. O fracasso da
escola está aí: os métodos de ensino e / ou as crenças dos professores.
Pedimos para os alunos soluções perfeitas de problemas que ainda não foram
elaborados. É difícil para uma geração que é quase autodidata se envolver as atividades
da escola em razão disso. Os conflitos entre escola e alunos é justamente a não
conexão de interesses. Entender a realidade, os interesses de nossos alunos é
fundamental para que nossas propostas sejam mais interessantes.
Tempos de mudanças para a família
A família também não ficaria fora de tantas mudanças. Os pais devem entender a
localização histórica de cada geração. Sobretudo, entender que o jovem de hoje
é diferente de sua época: são jovens reconhecidos em suas ações inovadoras e afirmativas;
solitário e individualista; exigente, autônomo; absolutamente crítico; não tem
paciência; sua inexperiência às vezes o conduz à práticas agressivas; é
comunicativo; multiconectado; alienados à política e a questões sociais, tem o
domínio da leitura e da escrita; capacidade de fazer cálculos e de resolver
problemas; capacidade de analisar, sintetizar e interpretar dados, fatos e
situações; capacidade de compreender e atuar em seu entorno social; recebem
criticamente os meios de comunicação; tem a capacidade para localizar, acessar
e usar melhor a informação acumulada; capacidade de planejar, trabalhar e
decidir em grupo.
Entre as mudanças na família, a prioridade deve ser a mudança de comportamento
dos pais que devem vigiar seus filhos no sentido de “zelar”, e não vigiar com o
sentido de “perseguir”. A principal mudança seria os pais mudarem para que seus
filhos mudem, já que as pessoas não mudam com cobranças e sim com exemplos.
Os pais
também devem delegar aos seus filhos a responsabilidade que eles devem assumir.
Muitos pais e mães querem viver a vida do filho quando escolhe para eles a
profissão, a namorada, os projetos, tomam as decisões que os filhos deveriam
tomar, sofrem no lugar dos filhos. E isso em muito pouco ajuda para a o desenvolvimento
de sua autonomia. O que seria interessante ser feito é os pais questionarem os
filhos como eles irão resolver determinado problema, permitir que a resposta e
as inquietações venham deles, que eles vivam seus próprios problemas. Os jovens
têm se habituado ao fato de que os pais sempre resolverão tudo e, em razão
disso, não constroem sua autonomia e senso crítico. Mudar não é
nada fácil, deve vir da necessidade interior de cada um. É preciso acreditar
que tudo dará certo e ter muita, muita fé.
Agradeço a presença de todos e
até o próximo encontro com
Gercina Santana Novais
Psicóloga e Doutora em Educação
No dia 23/10/2012
Com o tema:
Janelas da Alma
Um forte abraço
Silvia Soares Sant'Ana
coordenação projeto
filosofandoagora
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